Pornográfico

Amor, sexualmente falando, pra mim, era estar sem aquele homem há tanto tempo que os vídeos que eu procurava nos sites pornográficos, no fim de tudo, se resumiam: ao jeito que ele gemia, ao jeito que ele metia em mim e ao jeito que eu imaginava que ele me via durante o sexo, seu pov. Era assim; chegava até mesmo a procurar por atores que tivessem aquela carinha linda, aquele cabelo castanho escuro super sexy. Até encontrei um. Ficava putíssima que alguns diretores não deixavam que ele gemesse tanto. Eu sabia que ele queria gemer, mas será que o público alvo daquele pornô, o homem macho, ia querer ver aquele macho gemendo? O gemido da mulher sempre acabava sobressaindo. Mas é ele que eu quero ver, o gemido dele que eu quero ouvir. Que sacanagem por parte da indústria pornográfica, que não pensou no tanto que eu sou apaixonada por aquele homem e quero ver homens iguais ele no pornô. 

Ele puxava meu cabelo bem forte e perguntava: tu me ama? - Amo. Claro que amo. Você vai embora e eu provavelmente vou passar os próximos 730 dias procurando por homens de cabelos longos no xvideos. Com o tamanho do seu pau e mais o tamanho do seu cabelo - ambos acima da média -, matematicamente a probabilidade de encontrar são ainda menores.

Eu estava curiosíssima. Esperei ele ficar um pouco bêbado e tirei uma fita métrica que tinha guardado debaixo do travesseiro sorrateiramente. Ele deu um pulo. Não me deixou medir de jeito nenhum. "Não tenho noção de tamanho, eu realmente preciso medir antes de falar pras amigas e pra mãe". Nada o convenceu. É possível que eu procure por membros parecidos com o dele somente pelo critério de cor.

Com esse gemido gostosinho vai ser ainda mais difícil, gatinho. O macho do pornô acha bonito a metelança e fazer a mulher gritar, ainda que não seja exatamente por prazer. Uma vergonha, mas você não é assim, né, meu amor? Eu sempre digo que tapa e puxão de cabelo são artimanhas que machos usam pra conseguir uma boceta molhada fácil. Mas fazer uma mulher ficar molhada com um toque cuidadoso e um pau grande que você nem coloca inteiro pra não machucar, meu amor, isso são poucos homens que fazem. 

Você me deixa tarada com sua língua molinha e delicada, desapressada, e suas mãos que tocam sem deixar vermelho, roxo ou verde. Em qual tag do pornhub eu acho isso agora que você foi embora? Ainda por cima, li por aí que somente 4% dos homens tem o pênis maior que 20cm. Saber que vai ser difícil sentir algo tão tão parecido com você de novo me deixa um pouco deprimida, pra falar a verdade.

Os vídeos não estavam me satisfazendo tanto no quesito visual. Eu sentia falta dos braços e do pescoço tatuados, do cabelo, dos dentinhos serrados e da forma dos dedos. Sentia falta da voz, mas não somente do som. Sentia falta da entonação, da ofegância, do quanto ela ficava melodiosa naquela hora. Gostava mesmo era de te ouvir falar. Encontrei então, um podcast ASMR pornô. Hoje em dia a gente encontra de tudo.

Lembrei até que as vezes metemos enquanto fazíamos ASMR no ouvido um do outro, igual aqueles vídeos do youtube mesmo. Você tem um rostinho lindo que eu queria lembrar até ficar bem velhinha, e enquanto a gente transava, eu fingia que esculpia seu rosto com as mãos e com a minha língua. Era o meu jeito de aprender toda a sua topografia. Naquele momento, você era tudo o que eu precisava conhecer. 

Sua lembrança me emociona sexualmente e minha emoção sexual inevitavelmente me lembra de você. É assim que te revisito e que te rememoro. 

Banheirão

 


Os alunos aguardavam a campa para a aula começar.

- Ei, Caio, caralho!

- Que foi já, porra.

O primeiro moleque fazia movimento de um "vem cá" afobado, com as duas mãos. Estava na porta do banheiro masculino da escola. Caio correu até lá. 

- Olha! - Disse o moleque, apontando para a parede do banheiro.

Caio olhou e não pôde deixar de permitir um pequeno gemido de admiração. Estava impressionadíssimo. Caio, por sua vez, foi até a porta do banheiro e gritou, afobado:

- Brendel! Vem aqui caralho.

Brendel correu até lá, já se projetando em direção ao ponto que caio apontava.

- Mas que caralho...!

Brendel foi até a porta do banheiro, de onde chamou Jhonny, que chamou Ricardo, que chamou Édipo, até que o banheiro já estava completamente amontoado de meninos. Alguns já se aglomeravam na porta, aguardando sua vez.

Uma das pedagogas, observando o motim, andou até o banheiro com passos apressados e esgueirou-se entre os meninos, como se a parede que todos observavam liberasse uma espécie de magnetismo. Deparou-se com um desenho feito com pincel para quadro branco. Centralizado. Simétrico. Ereto. Suculento. A glande, levemente inchada, todas as veias e a rugosidade do membro anatomicamente percebidas e lembradas. Era quase possível sentí-lo pulsar. 

Enquanto fitava a parede, pensou: como podia reprimir o comportamento daqueles garotos abismados por aquela obra? Como podia?