Sonho erótico

"I can turn you on
With my dirty mind"


Eu estava num sono profundo que, alguns segundos após minhas pálpebras abrirem e piscarem rapidamente, tentando acostumar meus olhos à luz forte e amarelada que irradiava pela fresta da cortina, eu bem que poderia dizer que estava desmaiada, não dormindo. Não lembrava de um único sonho que tivera tido na noite passada, o que era bem incomum. Eu normalmente tinha sonhos muito vívidos e complexos, que pareciam durar horas, e dos quais eu me lembrava com uma boa porcentagem de aproveitamento nas manhãs posteriores. Sou boa com sonhos desde criança. Chegava a contar minhas experiências inconscientes (ou subconscientes, não sei bem a diferença), como se fossem contos para outras pessoas. Com o tempo, comecei a anotá-los numa agenda, e se tornou a primeira coisa que eu fazia no dia, antes de todas as outras coisas.
Comecei a treinar como controlar meus próprios sonhos e até comprei um pinto (a genitália masculina mesmo) de pelúcia, que na verdade era um chaveirinho, para me servir de totem. Não me julguem, eu tinha quinze anos quando escolhi o meu. E não sei se é seguro mudar. Na teoria, eu saberia que estava num sonho se o pintinho mudasse de forma (se é que vocês me entendem).
No entanto, sonhos lúcidos de fato, quer dizer, aqueles em que você pode influenciar conscientemente o que acontece durante o sonho, eu só fui começar a ter há algumas semanas atrás, quando comecei meu tratamento com os antidepressivos. Realmente senti essa diferença, embora eu não saiba explicar o porquê e nem veja necessidade de contar deste efeito colateral para a psiquiatra.
Isso tudo eu pensei em microssegundos, imediatamente depois de eu despertar, ainda sonolenta, e precisamente logo antes de eu ver um torso masculino do outro lado da cama e levantar num sobressalto. Já não trazia ninguém para dormir comigo há alguns anos. Não tinha tempo e nem muita sorte de conhecer alguém que se interessasse por mim e eu por ela. Achava até uma espécie de sincronia raríssima na vida, que acontece mais com certas pessoas do que com outras. Isso eu pensei noutro microssegundo, enquanto observava aquele homem das costas maravilhosas e suas nádegas brancas, que permaneciam imóveis, apesar de toda a movimentação feita quando percebi sua presença.
Não era musculoso, mas dormindo naquela posição, as veias de seus braços sobrepujavam, conduzindo meus olhos direto para as mãos e seus dedos, onde os caminhos verdeazulados se entrecruzavam de forma ainda mais aparente. Minhas observações foram interrompidas pela possibilidade que me veio à mente daquele homem estar morto, ainda que isso não fizesse nenhum sentido lógico. Eu acho que eu não tinha o matado (pelo menos não me lembrava), e ainda que ele estivesse sido assassinado por outra pessoa, que desovou o corpo do lado vazio da minha cama de casal, o homem não parecia morto at all.
Embora ele estivesse nu, eu mesma não estava; continuava de camisola e calcinha, como me lembrava de ter ido dormir, e nem sentia o meu corpo estranho de nenhuma forma - fatos que, felizmente, me fizeram dar um suspiro de alívio genuíno.
Ele acordou. Não estava morto. Mas nesse momento, quem quase morreu foi eu. Era ele. Não o via fazia... nem sei quantos anos. Não envelheceu nada. Mudou de posição para se acomodar melhor e ficou olhando pra mim. Suas pálpebras esforçando-se para acostumar seus olhos à luz que atravessava a fresta da cortina e que agora delineava minha própria silhueta, pois naquele momento eu já me encontrava em frente à janela, olhando incrédula aquele homem nu espetacular que me olhava de volta, deitado na cama.
- Senta aqui. - Ele rompeu o silêncio, apontando para o próprio pênis, que estava duro. E riu. Congelei. Sua expressão de riso se desfez imediatamente quando ele se deu conta de minha própria expressão. Continuei olhando para ele.
- Tu está passando mal? - Ele perguntou preocupado.
"Não". Eu abri a boca e disse, mas não saiu som nenhum. Forcei a garganta e repeti.
- Não. Eu sento.
Ele deu um gargalhada. Continuei seríssima.
- Tá falando sério? - Ele perguntou, confuso.
- Tô. Teu pinto tá duro.
- Mas não é pra ti. - Ele respondeu com toda a naturalidade do mundo. - Eu quero mijar, acabei de acordar. - Ele riu. - Crazy girl.
Subi de volta na cama e subi em cima dele.
- O que tu tá fazendo?
Me acomodei em sua pelve e afastei minha calcinha com a mão. Tive que fazer um certo esforço para que encaixasse todo dentro de mim. Eu não estava quase nada molhada. Apertei o pescoço dele com minhas duas mãos. Aproximei meu rosto do dele e pedi para ele gemer pra mim.
Sem nenhuma vergonha ele começou a gemer no meu ouvido e começou a dizer todo o tipo de putaria.
Ele me penetrava apaixonadamente, sem tirar os olhos dos meus por nenhum microssegundo, exatamente da forma como eu fazia questão de não esquecer.
Entre os gemidos, gritei:
- Eu vou acordar!
- O que? Você vai gozar?
- Não, baby! Eu v-, eu vo-, eu vou acordaaaaar!
Acordei com o corpo todo tremendo, as pernas bambas, sem nenhum fôlego. Só uma luz azulacinzentada atravessava a cortina, esmaecendo o quarto. Ninguém além de mim na cama. A porta do quarto trancada. E o chaveiro de pinto pendurado na fechadura.
Que saudade, baby. Que saudade...

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